Infelizmente esta ainda é a realidade mais freqüente.
Como eles reagem, como eles lidam com esse não aceitar, como eles escolhem deixar claro que não aceitam, varia de caso para caso.
Alguns, após uma primeira discussão ferrenha, fingem “esquecer” que sabem.
Um silêncio eterno e angustiante paira para sempre. Um reafirmado desinteresse em relação a “esse aspecto” da filha ou do filho é sempre posto em prática. Um abismo doloroso de não comunicação e de um silêncio que, na verdade, grita angustiantemente.
Outros são ainda mais enfáticos em sua violência: fazem da vida da filha ou do filho homossexual um inferno. Esse inferno – e as profundezas que ele traz à alma desses filhos – varia de acordo com o “poder” que os pais têm. Quanto mais novos ou mais dependentes (financeira ou emocionalmente) os filhos são, piores são as cicatrizes de espírito e de auto-estima que lhes são causadas pela não aceitação dos pais.
Há os que fecham seus filhos, destroem seus mundos, cessam toda e qualquer comunicação que eles possam ter com o mundo exterior, os isolam de seus contatos, de seus amigos (em especial os “suspeitos de influenciar”) e esmagam a subjetividade de suas crianças e adolescentes com o intuito de “arrancar” deles a possibilidade de serem homossexuais.
Quanto mais religiosos esses pais são, via de regra, piores são as reações e as formas de lidar com a não aceitação. Essas reações vão desde palavras e ameaças cármicas, aonde o inferno e o demônio são repetidamente citados, a pregações e sessões espirituais de “limpeza” e de “cura” da homossexualidade dos filhos. Palavras cruéis, julgamentos e adjetivos pesados são constantemente direcionados a esses filhos.
Há os pais que são mais velhos, com filhos(as) também mais maduros(as). Esse filhos(as) só agora estão tentando se permitir vivenciar a sua homossexualidade. Esses pais e mães mais velhos usam e abusam de chantagens emocionais, mexendo com a mente e o coração de seus filhos e enfraquecendo-os de suas coragens, fazendo-os se sentirem culpados e sujos por terem a orientação sexual que têm.
Aliás, o sentimento de culpa é uma constante nos filhos que não são aceitos por seus pais.
O sentimento de abandono, de solidão, de rejeição e de dor estão sempre pulsando nesses filhos não aceitos.
Muitos desses filhos(as), passaram anos de suas vidas em silêncio. Sofrendo sozinhos os seus conflitos, sentindo todos os seus medos sem ter com quem conversar. Cada um deles acha que sabe como os pais pensam e que esses pais provavelmente não lhes aceitariam.
Essa dor e esse medo lhes acompanham tanto nos momentos felizes – em que encontram a possibilidade de um amor ou apenas o acolhimento em seu grupo de amigos – como também nos momentos mais tristes – em que têm seu coração partido ou sofrem algum tipo de preconceito ou bulling. Em nenhum desses momentos, eles podem buscar o apoio de suas famílias ou dividem com eles o que estão sentindo ou pelo que estão passando.
Em conversa com um casal de meninas que conheci recentemente uma delas me disse que ouviu de uma amiga a seguinte declaração: “Quando um negro sofre preconceito, ele pode chegar em casa e ter o apoio de sua família, já que são todos também negros. A mesma coisa acontece com um judeu ou outros exemplos que se estendem ao âmbito familiar.”
Mas quando um homossexual sofre preconceito, infelizmente dentro de casa é o último lugar no qual a maioria deles buscará ou terá apoio.
Lidar com o não saber de seus pais é tão doloroso quanto descobrir que eles realmente não os aceitam, não os apóiam e sentem vergonha e decepção por terem filhos que são homossexuais.
Quanto maior o amor que sentem por seus pais, maior é o conflito sobre os sentimentos de contar ou não contar e maior é a necessidade de compartilhar suas vidas com seus pais e tentar ter o apoio e o companheirismo deles.
Este é um assunto dolorido.
Muitos adiam ao máximo a hora de contar aos seus pais sobre a homossexualidade como formar de proteger os pais da decepção que acham que lhes causarão.
Outros se sentem tão asfixiados e conflitados que chegam ao limite e contam aos seus pais como um ato de desespero, como um pedido extremo de colo.
Infelizmente a maioria não receberá colo de seus pais e, estando em um estado já tão frágil, ainda serão rechaçados e escutarão acusações e perjuras de seus pais, irmãos e familiares.
Esta é a situação na qual a maioria de nós, homossexuais, se encontra.
A cada caso, a cada história, em cada um dos doloridos detalhes de cada filha e filho não aceito, paira a pergunta constante: “O que fazer se meus pais não me aceitam?”
PARA AS FILHAS
PARA OS FILHOS
A resposta para esse pergunta, também infelizmente, não é simples.
Em geral eu peço calma. Peço que se protejam das palavras cruéis que seus pais venham a lhes dirigir. Peço que criem um “escudo” e que não se deixem ferir tanto.
Aos que tem como conquistar independência financeira, façam isso. É mais fácil administrar sua própria vida se você mesma(o) puder pagar por ela.
Aos que ainda não podem sair de casa ou do contato constante com seus pais, peço que tentem “jogar o jogo do contente”, tentando minimizar os conflitos até ter um outro plano de ação, uma outra saída ou outra forma de lidar com tudo.
Se as agressões verbais forem muitas e constantes demais ou, pior, se chegar à agressão física por parte de seus pais ou de qualquer outro familiar, é hora de buscar ajuda de fora. Seja algum membro da família a quem você possa recorrer ou amigos que possam lhe dar apoio e guarida ou alguma ONG de proteção e apoio a LGBTs. Lembre-se que em sua cidade (ou nas proximidades dela) existem pessoas que podem te ajudar e te dar os direcionamentos que você precisa. NÃO PASSE POR ISSO SOZINHA(O)!
Em todo caso, a via de regra é que as coisas melhorem com o tempo.
Seja porque seus pais aprenderam a aceitar, seja porque o que eles fazem ou falam já não te fere mais tanto, seja porque você já se distanciou de vez deles ou seja porque vocês já aprenderam a lidar com as limitações uns dos outros.
O mais importante no momento, para você que está vivenciando esses conflitos em casa, é tentar manter o canal de diálogo aberto com seus pais.
É preciso que você entenda o limite deles, mas, principalmente, é preciso que você saiba do seu limite. Que você se respeite o suficiente para entender aonde termina o direito dos seus pais e aonde começa o seu.
Saiba escutar, mas saiba também falar – mantendo a calma.
Absorver tudo, aceitar tudo, não é saudável! Nem para você que guardará todas as frustrações em si, nem para o relacionamento com seus pais que não crescerá. Muitas vezes o conflito é necessário para haver evolução.
No entanto, é preciso que você entenda que, às vezes, é mais saudável um distanciamento – ainda que temporário – para que você e seus pais reavaliem a importância desse relacionamento e para que se organizem por dentro a respeito do que estão sentindo.
Tentar achar uma pessoa “neutra” como um familiar ou amigo da família para servir de intermédio entre você e seus pais na maioria das vezes ajuda.
Se os seus pais estão dispostos a escutar ou buscar ajuda, o GPH (Grupo de Pais de Homossexuais) é um ótimo apoio! Lá eles poderão conversar com outros pais que estão passando pelos mesmo que eles e de forma totalmente confidencial e privativa. (http://www.gph.org.br/)
Lembre-se sempre de cuidar de si, de buscar ajuda.
Para as meninas, o grupo secreto do Parada Lésbica no Facebook é um ótimo canal para desabafos e para receber apoio de outras meninas que já passaram por isso ou que também estejam no mesmo barco que você (para fazer parte do grupo é necessário que uma pessoa que já faça parte lhe adicione – você pode pedir para mim ou para a Del Torres lhe adicionar).
Leia livros sobre o mundo LGBT. Leia artigos. Veja documentários. Passe emails.
Eu creio no poder da vida. Quando pedimos ao Universo uma solução, Ele nos escuta.
Acima de tudo, saiba que você é exatamente quem você deveria ser!
E que ser homossexual não será sempre tão pesado como parece ser agora.
Vamos aprendendo a lidar com nossas características e com os aspectos que nos formam. Vamos aprendendo a nos dar valor e a nos achar bonitos do jeito que somos.
Sonhe seus sonhos.
Lutes por seus planos, por sua vida, por seu sorriso.
Se você um dia já teve um bom relacionamento com seus pais, as chances de vocês voltarem a ter um bom relacionamento de novo é grande. Apenas é preciso dar tempo ao tempo.
Acredite, todos crescem no processo.
Alguns textos para lhes ajudar:
# Devo me assumir? Quando? Como?
# Chegou a hora de contar aos pais?
# Homossexualidade e auto-estima
LIVROS:
PARA PAIS E FILHAS(OS)
Se vocês têm questões religiosas (a maioria dos conflitos em geral nasce disso), por favor vejam o documentário “Como diz a Bíblia”, no qual vários mitos a respeito da relação “homossexualidade e religião” são derrubados por líderes religiosos, pesquisadores e intelectuais renomados.
Também estão no documentário vários testemunhos de pais e filhos a respeito da não aceitação. Não há como não se transformar ao ver esses relatos – desde que vocês estejam com o coração aberto ao diálogo, claro.
PARA PAIS QUE NÃO ACEITAM A HOMOSSEXUALIDADE DE SEUS FILHOS
Sei que é difícil.
Que no momento que você soube da sua filha ou do seu filho o peso do mundo caiu sobre você.
Mas saiba que esse é o mesmo peso que a(o) sua(seu) filha(o) carrega todos os dias.
Não se sinta julgado por não aceitar.
A maioria dos pais – inclusive os que hoje aceitam – um dia sentiu tudo o que você está sentindo neste momento.
Apenas, agora que você sabe, é hora de buscar mais do que nunca, o diálogo.
Muitos pais se distanciam dos seus filhos por conta dos vários conflitos, palavras cruéis trocadas e diferenças de entendimentos acerca da vida.
É necessário que vocês se esforcem, que lutem pelo amor de vocês, pela união do seu núcleo familiar.
Se você me permitir, gostaria de conversar um pouco mais no vídeo abaixo:
OBS: Para os que acompanham o Podcast “Um Convite à Oração”, já já estaremos de volta! ;]
Obrigada pelas várias mensagens, emails e recadinhos de incentivo!
Eu e o Artur lemos todos e ficamos super felizes com a companhia de vocês!
Até já já! :]